terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Presságio Circular





''Presságio Circular''


Tinges os cílios lhes
ostentando de riscos longos,
definindo leves fios em traços
afiados à nanquim dos cuidados
entretidos em si:

No décimo sétimo andar de
um desses edifícios aí fora
existe um apartamento que
jamais será o domicílio
das nossas tardes de descanso.

Dentro do domingo,
num desses arraiais,
haverá um bonsai não
escolhido por nós
que ficará da praça para
numa estante qualquer
envelhecer no esquecimento.

Longe, no antiquário do casal
Muniz Botelho da Cruz, ficará o
candelabro, a vitrola, o conjunto de xícaras,
os biscuit's e o criado-mudo de jacarandá...
Nós certamente não os encontraremos de repente,
para que depois, discutindo sobre o assunto, penses
como sou tolo, e num dia belo surpresa,
bem nos lugares onde eu e nossa Flor
planejamos que mais gostarias.

Também não me verás te dizendo que
dona Zézé Lá da Quitanda faleceu noite passada
Ou que deu meu terno meio-dia e nós iremos
comprar aqueles chocolates, lembras?

Os dias virão e não veram nossa identidade como
endereço para os Reveillons à dois.
E nós três não completaremos os quinze de setembro
reservados para os que enfim dão uma chance aos versos e as canções.

Entretanto, os desfiles acontecerão naturalmente.
As bandas passarão, normalmente.
E as palmas da multidão darão tamanho para o voo das crianças
e essas, espalhadas por todos os lugares, levaram seus cata-ventos
para o alto da lenta tempestade de retalhos verde-amarelos...

Paciente, feminina e plena
cresces o olhar para o grande espelho,
ergues o rosto claro,
ensaias retoques indignos de
mais do que um impulso, depois ris...

Ris, emergindo de um diálogo particular contigo.
Ris, de dentes, olhos, lábios e ombros para um retrato em sépia.
E quando me reencontro estás lá...
Disposta de corpo inteiro

E os cílios,
noturnos...

E
ris...

Xangai...
Ópio...Poente...

Mon Petit

''A janela que dá para o mundo
não é essa sobre a qual nos debruçamos''.
Ela me disse enquanto testemunhávamos as
nuvens, que mais pareciam deuses anunciando a chuva
logo à cima das mangueiras, e não sei porque nesse instante
compreendi mamãe, quando numa dessas manhãs de
véspera de natal falou: -''Eu era mais feliz na época em que vivia de ilusões''.

Depois a menina, com quem compartilhava biscoitos de aveia e avelã, completou
confessando que estava contente. E então só eu vi quando
me veio uma enchente de pedir que ''por favor'' não me deixasse assim,
como quando falta luz e uma voz ao lado -por mais distante que esteja-
canta de mancinho para que o menino não tenha medo de dormir.

Eu acho que gostava dela e isso me fazia entender o
modo como mamãe me olha sempre que me despeço.
Depois percebi a relação que existe entre o tempo de vida das borboletas e
o percurso mágico da água derretendo o céu antes que tudo silencie.
Era fim de tarde; o teatro estava uma só penumbra e o ambiente lá fora cintilava uma mistura ressentida de 'início de noite', mistério, umedecimento e solidão.
De repente estava brincando no corredor da casa da titia e parei para fechar a janela, onde
suas plantas mais queridas já estavam molhadas.
Eu tinha que chegar no trinco, mas para isso deveria recorrer à ponta dos pés e
olhar para o alto.
Essa foi à primeira vez em que não vi as mãos de titia levando-me pelas mãos.
Quis dizer isso para a menina, que
mais uma vez me estendia os biscoitos de aveia e avelã,
mas ela também já não estava mais ali.
E nesta noite, quando abri a porta
havia faltado luz e mamãe já estava dormindo

porque a janela que dá para o mundo
não é essa sobre a qual nos debruçamos.

Réquiem ao Crepúsculo

Em nome de tudo o que não depende das mãos dos
homens e por tudo o que gera o alívio na confissão dos resgatados,
eu te aceito, Maria das canções e das promessas mais raras
Eu te aceito!

Deixo meus botões hereditários nas velhas caixinhas de ébano que
eram de minha vózinha,
dou meu cão 'firmino' para os cuidados de Eulália
e vamos juntos para Buenos Aires.
De lá podemos ir para o Quinto dos Infernos e
num duelo de Veríssimo nenhum achar defeito,
terminar vendendo fogo pro diabo às custas das
mais gentis lorotas e das mais formidáveis bravuras.

Viu?
Eu te aceito Julieta de Suassuna, realeza!
Eu te aceito, tarde no litoral dos horizontes nos lirismos!
Eu te aceito, vivacidade na veracidade dos meus ímpetos!
E posso não estar dentre os acasos que o amanhã tem para depois,
nem ter tostão algum para te dar uma cerimônia como tua mãe o quer,
mas te aceito mesmo não te dizendo,
mesmo não ganhando estrelas se não as de cidadão comum.

E mesmo não possuindo estrelas o
bastante para te dar um festa de São João
de matar Plutão de inveja,
eu me ganho, pois te aceito!
Eu alimento que te aceito!
Eu me escondo que te aceito!
Eu, de Assis à Buarque, assumo que te aceito!

Mesmo te vendo indo
e meu aceno ficando,
e meu corpo ficando,
e lentamente o Iemanjá partindo...
...as maresias cada vez menos misturadas.
Os pensamentos cada vez mais visíveis...
E um mundo de minúcias reunindo esse
momento num só lugar chamado
Nossa Senhora das Dores.

E lá se vai...

Maria...
Ô, Maria...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Mural 4#

à Rolleyflex

Esse perfume, Laís
Esse cheiro de péle
alva pérola ervas e
algas que tem o teu
tom gelado, menina

Talvez um dos teus
gestos me trazendo
de idímas escondidos
nas tantas vezes em
que te despi como
quem dá paz à um
faminto

Talvez tenha acontecido
enquanto estávas pensando
teus olhos nos longes vindos
de fugas para quintetos de cordas...

Foi quando me uni ao estado
potável que ilumináva o esmisfério
no verão de mil novessentos e trinta e cinco

onde prometemos reencortrar-mos-nos
ainda que o futuro não tivesse o mesmo
calor daquele momento imortal aonde

os convidados, já nas escadárias nos
davam banhos de fábulas e aplausos

esperando os lírios dos planos por nós
esquecidos para o Novembro em que
infalívelmente,

perderemos nossas ilusões.

Pelícola Noir








Um cisne de chantili
tomava leite quente
no Little lonely Pubie
situado entre a Coelho Peixoto
e a Dr. Camilo Salgado,
quando um pequeno
brilho de cristal gelado,
num adágio, atravessou
O silêncio da solidão do mundo.

Mas isso não evitou o resultado
gerado pela rivalidade entre
nações imperialistas;
Não reduziu a feiúra
proveniente do genocídio;
E nem ao menos diminuiu o
formigamento na rotina das passagens;
Ninguém viu esse instante reverberando
bonito no ar, exceto
Saint-Simon, Fourier, Robert Owen e
um cisne de chantili ouvindo Lennon em vinil.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

À bachiana nº4

_Amuado curumim?
Cabula dá febre, menino.
Deixe o chorume onde o encontrou.
Vá brincar no café.
Dê um cadinho de dó, vá!
Eu faço um calungo e lhe dô.

...E viu o verde imenso, limpo,
tranquilo, lustrado; ondulando...
Dando maresia pro vento morno.
O céu azul-eterno só não ficava embaixo.
E ergueu a mão em montinho igual cuité emborcado,
pra vista alcançar o tamanho das planícies,
porque gostava de estar de desbravador
ali,no meio do mundo.
A outra mão na cintura o deixava navegante,
corajoso; crioulo de engenho nenhum.
A bainha da calça dobrada no joelho.
Devia ter brincado de pescador mais cedo.

E aquilo em que acreditava então,
defendendo-o do medo, lhe colocou maior
e ''meu Deus!'' como era grande o tempo,
que já corria(imortal)
e a liberdade estava viva em
tudo que o sol tocava.
Infinitos...

Daí entrou no
bosque
e
nunca
mais
voltou.