sexta-feira, 21 de maio de 2010

Presságio Circular

Tinges os cílios lhes
ostentando de riscos longos,
definindo leves fios em traços
afiados à nanquim dos cuidados
entretidos em si:

No décimo sétimo andar de
um desses edifícios aí fora
existe um apartamento que
jamais será o domicílio
das nossas tardes de descanso.

Dentro do domingo,
num desses arraiais,
haverá um bonsai não
escolhido por nós
que ficará da praça para
numa estante qualquer
envelhecer no esquecimento.

Longe, no antiquário do casal
Muniz Botelho da Cruz, ficará o
candelabro, a vitrola, o conjunto de xícaras,
os biscuit's e o criado-mudo de jacarandá...
Nós certamente não os encontraremos de repente,
para que depois, discutindo sobre o assunto, penses
como sou tolo, e num dia belo surpresa,
bem nos lugares onde eu e nossa Flor
planejamos que mais gostarias.

Também não me verás te dizendo que
dona Zézé Lá da Quitanda faleceu noite passada
Ou que deu meu terno meio-dia e nós iremos
comprar aqueles chocolates, lembras?

Os dias virão e não veram nossa identidade como
endereço para os Reveillons à dois.
E nós três não completaremos os quinze de setembro
reservados para os que enfim dão uma chance aos versos e as canções.

Entretanto, os desfiles acontecerão naturalmente.
As bandas passarão, normalmente.
E as palmas da multidão darão tamanho para o voo das crianças
e essas, espalhadas por todos os lugares, levaram seus cata-ventos
para o alto da lenta tempestade de retalhos verde-amarelos...

Paciente, feminina e plena
cresces o olhar para o grande espelho,
ergues o rosto claro,
ensaias retoques indignos de
mais do que um impulso, depois ris...

Ris, emergindo de um diálogo particular contigo.
Ris, de dentes, olhos, lábios e ombros para um retrato em sépia.
E quando me reencontro estás lá...
Disposta de corpo inteiro

E os cílios,
noturnos...

E
ris...

Xangai...
Ópio...Poente...

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